segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Bem dita seja a Palavra.





Das 9:30h às 13:30h
Na Rua Dois de Dezembro - Flamengo, RJ

PROGRAMAÇÃO:
1-Espiritualidade segundo a Organização Mundial de Saúde
e a Psicomagia segundo Alejandro Jodorowsky
2-Benzimento como ação estética
4-A Palavra que bendiz: uma tipologia dos rezos
5-O ritmo e o gesto/ a Palavra e imagem
Investimento: R$120
(depósito bancário)
Inclui apostila e material
10 vagas
INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES
(21) 99906- 3579 (Whatsapp)
INSCRIÇÕES ATÉ O DIA 21 DE NOVEMBRO

domingo, 13 de outubro de 2019

Mulheres que pintam e bordam, Bordado e Cidadania - Ciclo de palestras AARJ/PAULUS 2019


IMAGINAR,GESTAR E EXPRESSAR: A FECUNDIDADE CRIATIVA DA ARTETERAPIA E O SAGRADO FEMININO.

Este ciclo de palestras tem como objetivo propor reflexões e práticas Arteterapêuticas relacionadas às múltiplas dimensões arquetípicas do feminino, suas relações com a Arte, e complementarmente buscar construir uma compreensão e estratégias de transformação em relação aos eventos de violência contra a mulher, presentes na contemporaneidade.

SÁBADO, 26 DE OUTUBRO
9:30h às 11:30h
Inscrições:  21 2240 1303
Local: Livraria Paulus. Rua México 111 - Loja B – Castelo – Rio de Janeiro

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Um olhar arteterapêutico para a prática tradicional das benzedeiras

Bordado sobre folha de Amendoeira
(Terminalia catappa)
Proposta do mini curso
Performance e Palavra nas Práticas Integrativas de Saúde: 
um olhar arteterapêutico para a prática das Benzedeiras
VI Congresso Latino-Americano de Arteterapia
Rio de Janeiro, setembro de 2017 



     Benzedeiras são praticantes de uma técnica tradicional de promoção da saúde que envolve a palavra e a performance. O benzimento, praticado majoritariamente por mulheres, agrega saberes multiculturais utilizados há séculos na América Latina. Ultrapassando a imagem estereotipada da folclórica velhinha com um ramo nas mãos, podemos perceber que uma benzedeira é uma liderança em sua comunidade, que integra uma linhagem que soube preservar, mediante cuidadosa transmissão oral, um conhecimento  sobre saúde integral que extrapola o corpo matéria, envolve a sociedade, a cultura, a religiosidade e as emoções. 

 Considero o benzimento _ técnica de organização e reorganização pela palavra_ um ato estético. Augusto Boal (2009) define a estética como a organização sensível do caos, que gera um conhecimento expresso pela Palavra (linguagem), pela Imagem e pelo Som. Segundo o autor. "Quando pronunciamos uma palavra, ela não nos vem como simples som e sentido. Jamais sozinhas ainda que pálidas, surgem [...] nuvens esvoaçantes de imagens, segundo a cultura a que pertencemos, nosso passado pessoal e o momento que vivemos." (BOAL, 2009:79). Esta relação com a palavra_ estética e implicada_ está na base da minha pesquisa sobre sistemas tradicionais de saúde e arteterapia.
     



O olhar da arteterapeuta: Era uma vez...

Anna da Glória Ribeiro
     Sou bisneta de benzedeira. Minha bisavó Anna da Glória Ribeiro, uma trabalhadora rural na região de Vianna do Castelo, Norte de Portugal, migrou para a Cidade do Porto em busca de melhores condições de vida e, a exemplo de muitas trabalhadoras rurais em qualquer lugar do planeta, trabalhou como doméstica, sendo babá de duas crianças. No Porto conheceu Antônio, um belo moço, e com ele casou. Como grande parte de homens e mulheres pobres, em uma terra que não lhes oferecia grandes oportunidades, decidiram migrar para o Brasil, onde nasceram seus seis filhos.

     Conheci a bisa aos seus 94 anos e com ela convivi durante nove anos. Sempre me pareceu comum ter uma Velha Sábia rezando e benzendo contra o mau-olhado, ventre virado, impingem. Minha bisavó tornou-se encantada no ano de 1969. À medida em que a vida escolar e, mais tarde a acadêmica, tomavam meu tempo, esta história tornou-se cada vez mais distante...  

     Quando comecei a contar histórias, bisa Anna tornou-se figura presente. Intuitivamente percebi que aquela benzedeira, mãe de um pastor evangélico, de uma mãe-de-Santo umbandista e de uma católica da Irmandade das Filhas de Maria era, de algum modo, a força motriz de meu trabalho com narrativas da mitologia de matriz yorubá.  Após meu doutorado, contudo, o legado ancestral das benzedeiras começou a sussurrar em meus ouvidos tal qual o sussurro da bisavó enquanto rezava seu rosário. Decidi, então, olhar com cuidado e respeito para a prática do benzimento reivindicando, assim, esta herança.



Benzimento como ato estético 

A Benzedeira, 
pintura de Helena Coelho, disponível em 
http://pinturasnaifdehelenacoelho.blogspot.com.br/2011/01/blog.post.html
Acesso em 18/09/2017
  

     Gomes & Pereira (1989) definem o benzimento como uma linguagem oro-gestual com a qual algumas pessoas controlam as forças que contrariam a vida harmoniosa, e tem como objetivo principal garantir o funcionamento da normalidade desejada para conter o mal. Embora concorde com os autores quanto à definição do benzimento, penso todos nós temos o benzer_ ou bendizer_ tecido em nosso cotidiano. Um Vá com Deus! ou Deus te acompanhe! ao se despedir diariamente de um ente querido; um Saúde! após um espirro, são benzimentos.

     Na benzedura não existe pedido ou súplica; é a força da palavra que, ao ser proferida, organiza e faz com que o mal se afaste. A palavra, no benzimento, é a força criadora e modeladora de todas as realidades; é a palavra mítica, instrumento dos deuses e vinculada à história das origens. Como força criadora, a palavra deve ser proferida, acompanhada por gestos arquetípicos de proteção, como a cruz e o círculo; de unir o que foi rompido como o uso da agulha e linha; ou de cortar aquilo que atrapalha a organização desejada, como os benzimentos contra impinges, nos quais se utiliza uma faca cortar simbolicamente o malefício.  


      Para nós, arteterapeutas, comprometidas com a ativação e ampliação dos espaços de autonomia criativa e livre expressão _ características de uma saúde cidadã_  é importante o conhecimento de  práticas e saberes tradicionais ligados à promoção da saúde. Neste sentido, contribuir para a visibilidade de outras formas de cuidado, relação e vínculo propiciados pelos saberes não-hegemônicos é, também, uma saudável ação criativa.

Referências:

BOAL, Augusto. A Estética do Oprimido. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
GOMES, Núbia Pereira & PEREIRA, Edmilson de Almeida. Assim se benze em Minas Gerais. Juiz de Fora: EDUFJ/Mazza Edições, 1989

Para citar esta postagem:


RIBEIRO, Eliana N. Um olhar arteterapêutico para a prática tradicional das benzedeiras, 18 mai 2018. Disponível em https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6645345007543955985#editor/target=post;postID=743233946864836828;onPublishedMenu=allposts;onClosedMenu=allposts;postNum=0;src=postname